Fábio Pires, Software Engineer da agap2IT, desempenha funções num dos principais grupos retalhistas do país. Ao desenvolver tecnologia neste setor tem certas conceptualizações sobre oportunidades e desafios que se desenrolam no mesmo. Nesse sentido, escreveu um artigo de opinião que foi publicado na revista Hipersuper e que podes ler de em seguida.
Inovação em Movimento: Como a Tecnologia Está a Redefinir o Retalho
Fábio Pires, Software Engineer, agap2IT
A tecnologia tem vindo a transformar, de forma inovadora, quase todos os sectores da economia, e o retalho não é exceção. Desde automatizar processos internos até permitir que os clientes façam as suas compras sem necessidade de contacto físico, a inovações tem proporcionado oportunidades únicas para as empresas deste setor melhorarem a sua eficiência, reduzirem custos e aumentarem a satisfação dos clientes.
Nos últimos anos, as empresas de retalho têm adotado uma variedade de tecnologias para melhorar a experiência de compra. Entre estas inovações, destacam-se os sistemas de self-checkout, que permitem aos clientes pagar pelos produtos sem a necessidade de interagir com um funcionário. Além disso, tem existido um investimento em aplicações móveis, que ajudam os clientes a planear as suas compras, oferecendo funcionalidades como a criação de listas de compras, descontos personalizados e informações detalhadas sobre os produtos. Estes avanços não só tornam a experiência de compra mais conveniente para o cliente, como também, ajudam as empresas de retalho a recolher dados valiosos sobre padrões de consumo, que podem ser utilizados para melhorar o planeamento de inventário e promoções.
Um exemplo notável de como a tecnologia pode transformar a experiência de compra é o recente modelo de lojas sem qualquer necessidade de colaboradores. Nestas lojas, os clientes entram, recolhem os produtos que desejam e saem sem precisar passar por uma caixa registadora. Utilizando uma combinação de câmaras, sensores e inteligência artificial, os itens retirados das prateleiras são automaticamente registados e o valor a pagar é cobrado diretamente da conta do cliente quando ele sai da loja. Esta abordagem não só elimina filas de espera e torna a experiência de compra mais rápida e conveniente, como também, permite à loja reduzir custos operacionais.
Para além das tecnologias voltadas para o cliente, as empresas de retalho podem beneficiar significativamente do uso de simulações computacionais para gerir melhor os seus recursos. Através de simulações, é possível testar diferentes parâmetros operacionais, como o número de caixas abertas, o número de caixas de self-checkout ou a alocação de funcionários, com base em dados como a frequência de entrada de clientes. Estas simulações permitem identificar as configurações mais eficientes, ajudando as lojas a optimizar o fluxo de clientes, reduzir tempos de espera e alocar recursos de forma mais eficaz.
Contudo, apesar das claras vantagens que a tecnologia oferece ao retalho, há uma preocupação legítima em relação ao impacto social dessas inovações, especialmente no que diz respeito ao emprego. O modelo de loja sem funcionários da Amazon Go, por exemplo, levanta questões sobre a diminuição de postos de trabalho num sector que tradicionalmente oferece muitas oportunidades de emprego. Esta realidade apresenta um dilema importante: como equilibrar a eficiência e conveniência trazidas pela tecnologia sem comprometer a subsistência de milhares de trabalhadores que dependem destes empregos?
Nos próximos anos, a inovação no setor do retalho deverá concentrar-se em tecnologias que proporcionem uma experiência de compra ainda mais personalizada e eficiente. O uso de inteligência artificial e a análise de dados em tempo real continuam a evoluir de forma exponencial, permitindo oferecer recomendações cada vez mais precisas e individualizadas aos clientes, ajustadas às suas preferências e comportamentos de compra anteriores. Além disso, espera-se um aumento significativo na adoção de robótica e automação em áreas operacionais. No caso dos supermercados, robôs poderão, por exemplo, ser utilizados para monitorizar o inventário e reabastecer prateleiras de forma autónoma, garantindo que os produtos estão sempre disponíveis. Estes avanços prometem transformar as operações diárias dos supermercados, melhorando a eficiência e oferecendo aos consumidores uma conveniência sem precedentes.
Em conclusão, o retalho tem muito a ganhar com a adoção de tecnologias avançadas, desde melhorar a experiência de compra do cliente até otimizar a gestão interna de recursos. No entanto, é essencial que a implementação dessas tecnologias seja feita de forma consciente, considerando não apenas os benefícios económicos, mas também o impacto social. De uma coisa podemos estar certos, o futuro do retalho será, sem dúvida, marcado pela inovação.