Artigo de opinião publicado na AutoDRIVE. É da autoria de José Lourenço, Android Automotive Applications Expert da DXspark, unidade de Digital Experience da agap2IT.
Com o Android Automotive isso já é possível. Este é um sistema operativo completo responsável por tudo o que acontece no carro, desde o momento em que o ligamos, passando pelo uso de ar condicionado ou a utilização de aplicações como o Spotify ou o Google Maps. Essa é, aliás, a grande diferença em relação ao Android Auto, um sistema que precisa de um Smartphone Android para funcionar e não tem acesso às funções do carro, controlando apenas as aplicações em execução no telefone; é uma aplicação para replicar o ecrã do dispositivo Android no Dashboard do veículo. Enquanto isso, o Android Automotive funciona como uma espécie de Smartphone de quatro rodas.
Para esclarecê-lo melhor, faço a seguinte comparação: este sistema é praticamente aquilo que o Windows é para um PC. Invés de funcionar num telemóvel, tablet ou mesmo numa TV, apresenta-se num veículo, mas não pode ser instalado por condutores. A única maneira de obtê-lo passa por comprar um carro novo que tenha o sistema operativo pré-carregado. A Google, responsável pelo sistema, está a realizar parcerias com fabricantes automóveis, ao pré-instalar o Android Automotive nas suas unidades principais, diretamente da fábrica.
O primeiro veículo a suportar o Android Automotive foi o Polestar 2, seguindo-se o Volvo XC40 Recharge. Mas o mercado está a crescer. A Google já fez acordos para a expansão para outras marcas como a Ford, General Motors e a Renault-Nissan-Mitsubishi-Alliance. Recentemente a Honda anunciou que também irá adotar a plataforma a partir do próximo ano.
Os utilizadores deverão interagir com o Android Automotive através de um ecrã tátil, tipicamente no centro do tablier. No entanto, os fabricantes terão uma certa liberdade de escolha para definirem um local diferente, onde poderão consultar as aplicações do sistema de infoentretenimento do carro; e até mesmo apresentar um sistema visual mais robusto onde a informação pode ser apresentada e passar por diferentes disposições. Este display mais robusto que falo, denomina-se por Cluster Display. Através desta tecnologia o sistema Android Automotive permite uma apresentação de informação em clusters onde podemos ver a informação em diferentes monitores. Monitores mais frontais ao utilizador como é o caso onde normalmente se encontra o velocímetro, onde poderão ser apresentadas informações como direções de navegação; e outros menos focados no condutor, como é o caso de Media Apps (aplicações de música, podcasts, notícias...) ou aplicações que envolvam maior informação como o caso de Pontos de Interesse próximos, que sendo mote de distração do condutor, se apresentaram num local de menor acesso à visibilidade direta deste.
A segurança do condutor é outra das vantagens do Android Automotive. O áudio será o principal conteúdo a ser consumido, como por exemplo através das chamadas Media Apps. Além disso, o sistema consegue identificar se o carro está em movimento. Será ainda disponibilizado o acesso a várias informações do veículo – tal como consumos, pressão de pneus ou velocidade – o que faz a imaginação e a inovação ganharem espaço.
No ponto de vista de desenvolvimento de software, encontramos mais uma vantagem: o stock tecnológico Android que conhecemos pode ser utilizado, tornando possível utilizar tudo o que o ecossistema oferece tanto em Java como em Kotlin. E, se quisermos, podemos ainda usar Xamarin Android. As possibilidades de migrar apps já existentes são de facto uma mais-valia e algo que o mercado de desenvolvimento não vai ignorar.
Para além do Android standard que conhecemos, temos também ao nosso dispor a Car UI Library, uma framework de UI que nos permite ter elementos gráficos específicos para a utilização de um ecrã num carro, e consistente com todo o resto do UI do Android Automotive. Não ignorando que diferentes fabricantes possam ter variantes gráficas, a Car UI Library em conjunto com o UI standard do Android também nos ajuda a conseguirmos uma sólida harmonia não entre o UI que estamos familiarizados do Android Mobile para o UI de um dispositivo gráfico automóvel. Esta é a nossa garantia que uma app funciona e respeita a utilização e as normas gráficas, mantendo consistência no ambiente de Apps.
Google já no terreno, mas Stores que disponibilizam o sistema vão aumentar
Como estamos a falar de Android, não podemos ignorar um ponto importante: Que App Store vamos poder usar? É aqui que entramos no tema “Google”, que já tem Store do Android Automotive, mas mantém algumas restrições no tipo de aplicações. O foco são as Media Apps, mas a pressão de outro tipo de aplicações como o pagamento de parques ou serviços de assistência em viagem vão definitivamente abrir as portas a outras vertentes aplicacionais.
No mercado automóvel, onde a competição é algo natural e expectável, diferentes fabricantes podem querer diferentes Stores com diferentes normas. No entanto, e uma vez que falamos de Android, acredito que irão continuar a ser usadas as mesmas Apps mesmo em Stores diferentes, desde que tenham Android Automotive.
A grande dificuldade vai passar não só pela adoção, mas também pela comunicação do produto. Toda a comunicação passa por "Google built in", mas nada impede um fabricante de querer usar o Android Automotive e não se associar ou utilizar serviços da Google. Porque no fim do dia, e vendo o exemplo da Huawei, o Android não é Google e a Google não é Android. Android é open source o e Android Automotive também o é. Esperemos que esta liberdade possa, num futuro não muito distante, colocar um Android em cada carro.