Artigo de opinião de Gonçalo Gomes, Unit Director da agap2IT, publicado originalmente no Dinheiro Vivo. Leia de em seguida.
Não podemos ignorar os números de desemprego que crescem diariamente. Contudo a verdade é que no sector de Tecnologias da Informação (TI) quem mantém o seu trabalho, geralmente após um período imposto de necessária adaptação, vê a sua produtividade aumentar consideravelmente.
setor anda desde sempre em sentido contrário a outras áreas de negócio que têm tendência a oscilar, Ainda assim, o “mundo” das TI em Portugal tem vivido um crescimento notável e uma escassez de desemprego. Em certas fases é grande dificuldade é encontrar profissionais qualificados disponíveis.
Se é certo que o ser humano é um animal de hábitos, não é menos verdade que em 2020 este se revelou capaz de adaptar a uma velocidade record à nova realidade que lhe foi imposta. Empresas tradicionais reinventaram-se, os seus colaboradores tiveram de aceitar a mudança e seguir em frente.
Antes de março era impensável para a maioria das empresas portuguesas, mesmo as de TI, terem praticamente 100% dos colaboradores a trabalhar a partir de suas casas, ou de onde estes bem entendam. O resultado final é acima do esperado.
Isto leva-nos a inúmeras questões, gostava de destacar um tema.
Será que os colaboradores de empresas de TI, caracterizados por serem profissionais exigentes, estarão disponíveis para mudar de empresa nesta época sem precedentes?
Diariamente, somos bombardeados com informação nos media sobre casos de layoff, ou mesmo sobre o crescente aumento do desemprego, acabando por ser incutido um certo receio em mudar. Até que ponto isto se repercute nas carreiras profissionais de TI?
Tal como as entidades patronais têm o direito de ser exigentes com os seus colaboradores, também nós, temos de ter a determinação de ser exigentes com as empresas que representamos. Se até alguns meses, um colaborador não podia, por exemplo, na área financeira em Portugal prestar o serviço remotamente por questões de segurança por não ter os necessários acessos, “de um dia para o outro” todos esses falsos problemas foram ignorados e tudo passou a ser possível.
Se a questão salarial já não era o único fator para um colaborador continuar na sua empresa, poder viver a escassos minutos da praia e ter de ir apenas ocasionalmente ao escritório passou a ser viável. Assim como não ter de pagar uma renda híper inflacionada, numa casa com poucas condições, e não ter de demorar todos os dias mais de 2 horas em transportes públicos para poder ir trabalhar.
Em poucos meses os profissionais de TI em Portugal provaram ser possível trabalhar bem remotamente. Parece-me portanto óbvio que foi conquistado o direito de num futuro manter a possibilidade, a quem o pretender, de se manter num regime de teletrabalho, se não que total, pelo menos parcial.
Terão também as empresas a difícil tarefa de se tornarem mais eficazes, na forma de manter os seus principais ativos (os colaboradores) motivados e sem necessidade de sondar o mercado, ou mesmo não estarem disponíveis em ser abordados para novos desafios profissionais. Tal apenas acontecerá se o nível de satisfação do colaborador, com a sua atual empresa, for próximo do pleno nível de satisfação.
Assim parece-me que esta pandemia, não obstante os inúmeros fatores negativos que acarreta, poderá num futuro próximo melhorar a qualidade de vida para muitos profissionais, nomeadamente na perspetiva de conciliação da vida profissional com a vida pessoal e no aumento dos níveis de produtividade.
No que concerne às possíveis transferências de colaboradores a curto prazo, acredito que o mercado continuará a ditar as suas próprias regras. Os melhores profissionais terão sempre mercado que os procure pelo que não devemos acreditar que um profissional, apenas se irá manter na sua atual empresa por consequência da Pandemia.