Artigo de opinião assinado por Francisco Ferro Maurício, Director of Business Unit da Agap2IT. Publicado na Exame Informática.
Sabe-se que em tempos de guerra se dão grandes avanços tecnológicos. Tal frase não podia ser mais verdadeira, se compararmos com o intenso ano que temos para trás. Não de conflito bélico, mas propriamente de uma situação atípica que pôs à prova muitos setores da sociedade e que desencadearam propostas de inovação. Na Segunda Guerra Mundial a tecnologia de radar foi aperfeiçoada como uma necessidade de defesa, passando a ser utilizada em diversas áreas da economia. Foram desenvolvidas técnicas de criptografia, dando origem aos computadores e à transformação digital.
O combate à pandemia covid-19 teve duas frentes ativas, ambas importantes. Se por um lado os hospitais e os seus profissionais eram a primeira frente, o uso de Data Science e de modelos preditivos era a segunda, e de impacto a longo prazo. Neste campo, foi não só a Logística ininterrupta e os serviços de streaming como Netflix e HBO que nos permitiram entreter nos tempos em que não podíamos sair de casa. A Inteligência Artificial facilitou a otimização de centenas de serviços de entregas como da UPS, Fedex ou até Uber Eats e ainda as tecnologias de Big Data e Machine Learning tornaram possível a milhões de pessoas trabalharem a partir dos seus lares.
Mas não foi apenas para nossa conveniência que a Data Science nos serviu, foi a ferramenta basilar nas decisões governamentais mundiais tomadas ao longo deste ano, que permitiram fundamentá-las. Todos os confinamentos, decisões laborais, de comércio e economia, de nova regulamentação e de atuação tiveram como base o uso de estatística, modelos preditivos e Inteligência Artificial. A evolução de novos casos, a propagação do vírus, a previsão do estado do seu avanço consoante determinadas medidas, e até os planos de vacinação tiveram como principal base a Data Science.
Embora a Data Science tenha vindo a aumentar o seu espectro de utilizadores e de campos onde é utilizada, foi neste último ano que, por necessidade, se viu o maior aumento e evolução da mesma. Empresas mundialmente reconhecidas como a Oracle ou a Amazon viram os seus produtos e soluções de Machine Learning, Cloud e Inteligência Artificial a serem cobiçados e aplicados ao combate da pandemia como nunca antes. Nos Estados Unidos, por exemplo, os Health and Human Services (HHS) utilizaram Inteligência Artificial e modelos preditivos da Oracle para avaliar e adaptar o tratamento ao vírus nos pacientes em tempo real. Na Austrália foi utilizada semelhante ferramenta da IBM para prever a capacidade de resposta dos hospitais e adaptar a mesma.
E no futuro, que lugar terá a Data Science?
Embora seja incerto, já diversas destas empresas se comprometeram a aumentar o seu investimento no desenvolvimento de ferramentas que permitam à Data Science continuar a crescer e a ocupar o seu lugar na tecnologia mundial. Governos e empresas veem agora em primeira mão a importância e uso destas realidades digitais e aumentam também o seu empenho e investimento nas mesmas. De qualquer forma, qualquer que seja o futuro desafio ou pandemia, estaremos mais e melhor preparados com a ajuda da tecnologia.