Têm sido inúmeros os estudos acerca da melhor forma de manter os talentos estimulados, contudo, para que se consiga compreender como chegar à resposta a essa questão, em primeiro lugar, é importante definir o conceito de motivação.
A motivação é a união de dois conceitos: motivo para a acção. Prende-se com a força, intrínseca ou extrínseca, que leva as pessoas a realizar determinada tarefa. Não são todas iguais e o que as leva a agir também difere, pelo que esse é o ponto de partida para entender que não existe uma resposta única no que toca à motivação.
Tal como referi, existem dois tipos de motivação. A intrínseca está relacionada com factores internos da pessoa, em que o que a motiva é gostar do trabalho que faz e a aprendizagem resultante do mesmo. Este tipo é por norma mais duradouro no tempo, sendo que a pessoa não necessita de muitos mais impulsos externos para se sentir entusiasmada.
A motivação extrínseca está relacionada com factores externos, como por exemplo, as recompensas ou as punições. Na mesma lógica, este tipo de motivação é temporário, uma vez que tende a desaparecer com o alcance do objectivo, tendo o indivíduo necessidade de procurar outro para que continue a sentir-se motivado.
Existem estudiosos deste tema que defendem que se pode modificar o comportamento dos colaboradores nas organizações através de recompensas ou punições (Luthans e Kreitner), enquanto outros autores defendem que tentar orientar o comportamento através de motivações extrínsecas faz diminuir a motivação intrínseca porque as pessoas têm de se sentir estimuladas pelo trabalho que realizam e não pelo que podem obter com isso.
Tendo em conta a minha experiência, ambos os factores são importantes e determinam o comprometimento e, em última instância, a continuidade de um colaborador numa empresa. Um talento poderá sentir-se desmotivado se a sua componente salarial não acompanhar o que acha justo tendo em conta o trabalho que desempenha, contudo, se não existirem outros factores que o motivem intrinsecamente, a vertente financeira nunca será suficiente para o manter feliz e motivado.
Assim sendo, existem certas acções que um líder pode tomar para manter os seus talentos mais motivados, tendo por base uma forte Inteligência Emocional, isto é, deve conhecê-los bem para saber se estas acções terão um efeito positivo na sua motivação e não o oposto. Um líder pode (e deve):
- Reconhecer os seus colaboradores – dependendo do perfil da pessoa poderá ser um reconhecimento mais público ou privado, por exemplo, alguém mais reservado poderá não gostar de receber elogios em público;
- Dar feedback regular – em primeiro lugar, é importante explicar claramente quais os objectivos esperados do trabalhador e do seu trabalho, para que seja mais fácil avaliar e dar feedback sobre os mesmos, ajudando-o a evoluir ao longo do tempo;
- Dar oportunidade de participação na tomada de decisões – em casos de colaboradores mais seniores na sua função, poderá ser dada a oportunidade de estarem envolvidos no processo de tomada de decisões, desta forma sentir-se-ão mais reconhecidos e irá estimular a sua criatividade e espírito crítico;
- Criar um plano de carreira – perceber quais os objectivos de carreira de cada colaborador e ajudá-los a evoluir para conseguirem chegar ao que ambicionam. Neste ponto, é ainda mais importante conhecer bem o colaborador para não criar um plano de carreira igual para toda a equipa, uma vez que nem todas as pessoas querem chegar a cargos de gestão de equipas, por exemplo;
- Dar autonomia – demonstrar disponibilidade para ajudar em qualquer dúvida ou dificuldade, mas dar autonomia para que possam realizar o seu trabalho.
Algumas destas estratégias, quando bem aplicadas e relacionadas com outras, podem ser fomentadoras de um excelente sentimento de pertença à organização e, por sua vez, aumentar o comprometimento dos colaboradores com a mesma.
No entanto, quando um líder procura definir o que utilizar para motivar cada um dos seus talentos, deve ter em conta a Teoria da Equidade, defendida por J. Stacy Adams em 1965. Esta defende que uma recompensa pode ser percepcionada como negativa, quando comparada com outra atribuída ao colega, sendo por isso necessário que o líder tenha cuidado e atenção em relação à equidade dentro da equipa, para que não existam situações percepcionadas como injustas.
Em suma, o que deve um líder fazer em relação à complexa tarefa de motivar os seus talentos? Na minha perceção, deve procurar conhecer bem os talentos que formam a sua equipa e adaptar a sua estratégia ao perfil de cada um, procurando motivá-los da forma que para eles fizer sentido e não de uma forma universal para toda a organização. E como podemos conhecer os nossos talentos? Falando abertamente com eles, ouvindo-os e fomentando uma comunicação fluída e transparente. Só dessa forma será possível ter colaboradores que confiem nas suas chefias e, consequentemente, na organização em que trabalham.
Esta receita é meio caminho andado para termos talentos mais motivados nas organizações.