Helder Podence, Developer Sybase Senior da agap2IT, assinou o artigo de opinião " Há NFTs além das coleções e das obras de arte?”, publicado na Exame Informática.
Antes de começar este texto, permitam-me tentar explicar-vos o que é ao certo um NFT. Significa Non Fungible Token, ou em português, ativo não fungível. Fungível é uma palavra do foro económico que faz referência a um bem ou a um serviço que pode ser trocado contra outro bem ou ativo do mesmo valor. Portanto, aqui não fungível indica que não poderá ser trocado contra algo de valor igual. Assim sendo, será único.
Um NFT é um método criptográfico que permite certificar a autenticidade de um objeto virtual único através da blockchain. De maneira mais simples, quando se compra um objeto que utiliza a tecnologia NFT, mesmo que nos seja roubado, na blockchain estará identificado como sendo nosso e o seu valor.
Mas há mais. A particularidade desse token é que integra, dentro do seu código informático, instruções que são designadas como Smart Contracts (contratos inteligentes). Estes permitem identificá-los unitariamente pela atribuição de um endereço único na blockchain, perante o resto do mercado ou da sociedade. Ou seja, será impossível praticar uma falsificação nos NFTs, à semelhança do que já acontece com as criptomoedas. Na prática, um NFT não é nem uma obra de arte nem um ficheiro, mas sim um certificado que contém informações acerca da obra (ficheiro JPEG, GIF, …).
Para que servem?
Ultimamente tem-se ouvido muito falar dos NFTs no campo da arte, principalmente em objetos de coleção. Tem havido um grande burburinho acerca de certos colecionáveis, nomeadamente nos muitos mediáticos Bored Ape Yacht Club (BAYC), que não são mais do que representações de macacos estilizados e que se vendem por milhões. Os que tem uma obra de arte que se enquadra nos BAYC pertencem a um clube restrito de milionários: que o digam o Eminem, o Jimmy Fallon ou ainda o Snoop Dogg.
Mas não só de macacos vivem os NFTs
Quem está no mundo dos videojogos sabe que é possível, em alguns deles, comprar itens que façam evoluir as suas prestações nas partidas que disputam. Os CryptoKitties são um belo exemplo no qual se pode criar um gato virtual e vendê-lo através dos NFTs. Podia fazer rir se não soubéssemos que alguns deles chegaram a ser vendidos por 100 000 dólares.
No campo do cinema, aquando da saída do filme Deadpool 2, a 20th Century Fox publicou posters em edição limitada para o promover. Este foram negociados no OpenSea. Outro exemplo caricato foi o do realizador Quentin Tarantino, que publicou sete NFTs baseado em cenas cortadas do Pulp Fiction – embora isso lhe tivesse causado problemas com a Miramax por causa de violação de direitos cinematográficos. Há ainda outros exemplos como os filmes Godzilla vs Kong e Zero Contact.
Também na música temos alguns exemplos. Os Kings of Leon criaram um NFT para promoverem o álbum When You See Yourself e o Eminem fez o mesmo com alguma da sua discografia.
Ainda há outras utilizações. O criador do jogo CryptoKitties, publicou uma versão beta do NBA TopShot, projeto que vende colecionáveis de momentos chaves da NBA. Quando foi disponibilizado ao público, o projeto rendeu 230 000 000 dólares em vendas brutas a partir de 28 de fevereiro de 2021.
Outras utilizações possíveis dos NFTs virão, nomeadamente com novas tecnologias como o Metaverse.
Que futuro para os NFTs?
Será que os NFTs são apenas um efeito de moda usados para alguns para se enriquecerem? Será que tem mesmo uma utilidade prática e um futuro?
Como tudo na vida, ninguém tem uma bola de cristal para adivinhar o futuro. O certo é que o primeiro NFT, de nome Quantum, foi criado já lá vão 8 anos pelas mãos de Kevin McCoy e Anil Dash.
A verdade é que a tecnologia que está por trás dos NFTs evita a falsificação de tudo o que é obras de arte, colecionável e não só, devido ao facto de estar o certificado declarado na blockchain. Isto é um grande passo e permite nomeadamente resolver problemas relacionados com direitos de autor.
Se combinarmos os NFTs com o Metaverse, teremos a receita para a Web 3.0. Com estas duas tecnologias nada impede, no futuro, de termos uma empresa de camionagem cujos condutores estejam em casa a conduzir com o seu avatar um camião real à distância ou termos soldados numa guerra representados pelos seus avatares. A virtualização marcará passo para tarefas que nos são atualmente penosas ou de realização difícil.
Outro exemplo mais simples e do nosso dia a dia, seria de poder comprar uma entrada para um espetáculo ou para assistir a uma partida do nosso desporto favorito. Em caso de perda do bilhete ou até de ter destruído o e-mail do acesso, com o NFT não seria um problema, visto que aquele determinado bilhete estaria em nosso nome na blockchain.
Na minha opinião, ainda não temos total consciência das potencialidades dos NFTs que com outras novas tecnologias, como o Metaverse e com outras que virão, nos darão acesso a novos horizontes de trocas, lazer e bem mais.
O futuro o dirá e não acredito que seja apenas mais outro esquema de Ponzi.